domingo, 12 de novembro de 2006

Pedra Filosofal...

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,


como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,


como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.


eles não sabem que o sonho é vinho,
é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.


Eles não sabem que o sonho é tela,
é cor, é pincel, base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia, máscara grega,
magia, que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos,
Infante, caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim, florete de espadachim,
bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim,
passarola voadora, pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva, alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

"Antonio Gedeão"